Nomear é um ato de exercício do poder simbólico, e quando se trata de lembrança celebrativa, até bastante frequente, como discutimos nos posts http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/03/nomes-de-logradouros-publicos-alteracao.html e https://direitoamemoria.blogspot.com.br/2015/10/nomes-de-logradouros-publicos-alterar.html.
Nessa ocasião considerei que o estado de conservação de alguns logradouros públicos nomeados pode, na verdade, significar uma ofensa à memória do homenageado. Já imaginou associar a biografia e o nome de alguém a um presídio onde são cortadas cabeças, ou a um hospital que funciona mais como um matadouro?
A escolha de quem emprestará o nome, e ao que se nomeará, são indicativos do apreço social à personagem homenageada.
Ontem, o meu irmão me ensinou um exemplo maravilhoso. Na minha cidade, o engenheiro responsável pela instalação de novíssimos equipamentos nas casas - latrinas - no começo do século XX chamava-se Charles Louis Cambronne, e por causa disso passaram a chamar o próprio objeto de "cambrone" ou como sinônimo de banheiro, que até então era externo às residências.
Não é incrível? Agora só vou ao cambrone.
Cf. a referência: http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=reviphan&pagfis=7185, p. 169, nota de rodapé.
O brasileiro não tem memória.
Neste blog desmascaramos esta mentira.
Neste blog desmascaramos esta mentira.
domingo, 30 de abril de 2017
sexta-feira, 28 de abril de 2017
Manifestações contra as reformas trabalhista e previdênciária: 28 de abril de 2017
Este post será utilizado para acompanhar os desdobramentos das manifestações ocorridas hoje.
Há cem anos, a primeira greve geral no Brasil : http://www.bbc.com/portuguese/brasil-39740614?ocid=socialflow_twitter
Há cem anos, a primeira greve geral no Brasil : http://www.bbc.com/portuguese/brasil-39740614?ocid=socialflow_twitter
segunda-feira, 24 de abril de 2017
21 de abril de 2017 - 30 anos da Pira da Pátria
A Pira da Pátria foi inaugurada em 21/04/1987, e mantém a chama da nossa nação acesa. Localiza-se do lado esquerdo o Panteão da Pátria e da Liberdade (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2015/12/livro-de-aco-2-visita-ao-panteao-da.html).
Para ver uma fotografia: http://www.museuvirtualbrasil.com.br/museu_brasilia/modules/myalbum/photo.php?lid=180
Antigamente, o fogo sagrado era mantido pelas vestais (cf. http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/03/resgatando-instituicoes-antigas-virgens.html), mas no Brasil essa é uma nobre missão do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal.
Para ver uma fotografia: http://www.museuvirtualbrasil.com.br/museu_brasilia/modules/myalbum/photo.php?lid=180
Antigamente, o fogo sagrado era mantido pelas vestais (cf. http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/03/resgatando-instituicoes-antigas-virgens.html), mas no Brasil essa é uma nobre missão do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal.
Marcadores:
Direito à memória coletiva
terça-feira, 18 de abril de 2017
Formas de lembrar (4): uma canção
Observe a canção "Angélica", de Chico Buarque, dedicada a Zuzu Angel, a mais nova heroína do Brasil (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/L13433.htm):
"Quem é essa mulher
Que canta sempre esse estribilho?
Só queria embalar meu filho
Que mora na escuridão do mar
Quem é essa mulher
Que canta sempre esse lamento?
Só queria lembrar o tormento
Que fez o meu filho suspirar
Quem é essa mulher
Que canta sempre o mesmo arranjo?
Só queria agasalhar meu anjo
E deixar seu corpo descansar
Quem é essa mulher
Que canta como dobra um sino?
Queria cantar por meu menino
Que ele já não pode mais cantar
Quem é essa mulher
Que canta sempre esse estribilho?
Só queria embalar meu filho
Que mora na escuridão do mar".
Essa música lembra Stuart Angel, desaparecido político; a sua corajosa mãe, que agora é heroína nacional; a dor da perda; e nos lembra a todos desse terrível período da História Brasileira, que teima em não ser superado.
"Quem é essa mulher
Que canta sempre esse estribilho?
Só queria embalar meu filho
Que mora na escuridão do mar
Quem é essa mulher
Que canta sempre esse lamento?
Só queria lembrar o tormento
Que fez o meu filho suspirar
Quem é essa mulher
Que canta sempre o mesmo arranjo?
Só queria agasalhar meu anjo
E deixar seu corpo descansar
Quem é essa mulher
Que canta como dobra um sino?
Queria cantar por meu menino
Que ele já não pode mais cantar
Quem é essa mulher
Que canta sempre esse estribilho?
Só queria embalar meu filho
Que mora na escuridão do mar".
Essa música lembra Stuart Angel, desaparecido político; a sua corajosa mãe, que agora é heroína nacional; a dor da perda; e nos lembra a todos desse terrível período da História Brasileira, que teima em não ser superado.
Marcadores:
Direito à memória coletiva,
Direito à memória dos mortos
segunda-feira, 17 de abril de 2017
Patrimônio cultural familiar (2): a arte de aprender a pescar
No post http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2015/08/patrimonio-cultural-familiar.html refleti um pouco sobre o acervo, o patrimônio cultural que é construído e legado pelas famílias às sucessivas gerações dos seus membros.
Essa herança, que vai além dos meros bens econômicos, confere identidade e sensação de pertencimento. Os conhecimentos e valores (culturais e morais) são o quadro no âmbito do qual desenvolvemos a nossa personalidade, e sentimos a sua continuidade através da estreita relação com a memória dos antepassados e a convivência com os contemporâneos.
Não sei se foi pela Semana Santa, com o seu apelo onipresente ao consumo de peixes, mas refleti bastante sobre uma herança específica que recebi da minha linhagem materna, que é o contato íntimo com o mar.
Algumas de minhas memórias mais felizes da infância estão à beira-mar. Meu avô e meus tios maternos eram pescadores - não profissionais mas extremamente dedicados - e fui acostumada a ouvir a suas histórias (de pescador!) e a encarar o mar como fonte de contemplação, diversão e mantimentos.
Lembro, como se fosse ontem, que eram organizadas pescarias comunitárias com os membros da família e amigos (muitos mesmo), que me proporcionaram uma experiência comunitária interessante. Quando a pescaria era feita com redes (noturna), juntavam-se dezenas de pessoas para puxá-las, e havia uma interessante divisão de trabalho: crianças e algumas mulheres ficavam na areia para esperar as redes, classificar e tratar os peixes viáveis e, eventualmente preparar refeições ali mesmo.
O resultado da pescaria era dividido igualmente entre as pessoas e todos comiam e bebiam ali mesmo. Lembro também que essa era a hora de me recolher à mala do carro, onde minha mãe já havia colocado um colchão, travesseiros e brinquedos, e as crianças estacionavam quando estavam muito cansadas.
Se eu fechar os olhos, consigo quase sentir o cheiro do mar e da noite, misturado às vozes alegres. Sem dúvida, uma bela lembrança.
Lembro também que foi no barco do meu tio que vi pela primeira vez um tubarão e um golfinho.
E qual foi o meu legado?
Aprendi a pescar um pouco e a valorizar esse ofício tradicional, vendo a beleza da pesca artesanal que está morrendo.
Aprendi a amar e respeitar o mar - porque ele não tem cabelos, como dizia a minha vovó e minha mãe repetia. Sem cabelos e bordas não há como se segurar, e crianças devem ter muito cuidado ao nadar.
Aprendi a nadar, que é uma habilidade básica requerida pela família da minha mãe. Para eles, é inconcebível que alguém não saiba nadar - e bem - porque o mar não tem cabelos.
Aprendi a ver o mar, a contemplá-lo e senti-lo. E sempre me sinto feliz quando tenho a oportunidade de ir à praia.
Aprendi que a experiência comunitária pode ser muito satisfatória, quando há felicidade e o compartilhamento dos bens comuns.
Essa herança, que vai além dos meros bens econômicos, confere identidade e sensação de pertencimento. Os conhecimentos e valores (culturais e morais) são o quadro no âmbito do qual desenvolvemos a nossa personalidade, e sentimos a sua continuidade através da estreita relação com a memória dos antepassados e a convivência com os contemporâneos.
Não sei se foi pela Semana Santa, com o seu apelo onipresente ao consumo de peixes, mas refleti bastante sobre uma herança específica que recebi da minha linhagem materna, que é o contato íntimo com o mar.
Algumas de minhas memórias mais felizes da infância estão à beira-mar. Meu avô e meus tios maternos eram pescadores - não profissionais mas extremamente dedicados - e fui acostumada a ouvir a suas histórias (de pescador!) e a encarar o mar como fonte de contemplação, diversão e mantimentos.
Lembro, como se fosse ontem, que eram organizadas pescarias comunitárias com os membros da família e amigos (muitos mesmo), que me proporcionaram uma experiência comunitária interessante. Quando a pescaria era feita com redes (noturna), juntavam-se dezenas de pessoas para puxá-las, e havia uma interessante divisão de trabalho: crianças e algumas mulheres ficavam na areia para esperar as redes, classificar e tratar os peixes viáveis e, eventualmente preparar refeições ali mesmo.
O resultado da pescaria era dividido igualmente entre as pessoas e todos comiam e bebiam ali mesmo. Lembro também que essa era a hora de me recolher à mala do carro, onde minha mãe já havia colocado um colchão, travesseiros e brinquedos, e as crianças estacionavam quando estavam muito cansadas.
Se eu fechar os olhos, consigo quase sentir o cheiro do mar e da noite, misturado às vozes alegres. Sem dúvida, uma bela lembrança.
Lembro também que foi no barco do meu tio que vi pela primeira vez um tubarão e um golfinho.
E qual foi o meu legado?
Aprendi a pescar um pouco e a valorizar esse ofício tradicional, vendo a beleza da pesca artesanal que está morrendo.
Aprendi a amar e respeitar o mar - porque ele não tem cabelos, como dizia a minha vovó e minha mãe repetia. Sem cabelos e bordas não há como se segurar, e crianças devem ter muito cuidado ao nadar.
Aprendi a nadar, que é uma habilidade básica requerida pela família da minha mãe. Para eles, é inconcebível que alguém não saiba nadar - e bem - porque o mar não tem cabelos.
Aprendi a ver o mar, a contemplá-lo e senti-lo. E sempre me sinto feliz quando tenho a oportunidade de ir à praia.
Aprendi que a experiência comunitária pode ser muito satisfatória, quando há felicidade e o compartilhamento dos bens comuns.
terça-feira, 11 de abril de 2017
Ilustração do post anterior: brigadeiros
domingo, 9 de abril de 2017
Formas de lembrar (3): Brigadeiro
Que delícia, uma lembrança celebrativa que se pode comer.
Conta-se que o "doce do Brigadeiro" foi criado pelas eleitoras para divulgar a candidatura de Eduardo Gomes, que detinha essa patente, era bonito e solteiro (!?). O docinho era servido nas festas da campanha, mas não se sabe se foi criado para isso ou apenas popularizado nessa época, com ela se identificando. Cf (http://origemdascoisas.com/a-origem-do-brigadeiro/, http://mundoestranho.abril.com.br/alimentacao/por-que-o-doce-brigadeiro-tem-esse-nome/).
(Abrindo parênteses, esse requisito de beleza masculina também foi argumento na eleição presidencial de Collor, e de um governador aqui do meu Estado).
O fato é que Eduardo Gomes não ganhou a eleição mas brigadeiro foi eleito uma das preferências gastronômicas nacionais, e a maioria das pessoas o come sem lembrar do candidato. Mas outras, como eu, lembram dessa estória e passam adiante.
E por que lembrei disso hoje? Porque hoje vou comer muito doce de brigadeiro, daqueles tradicionais, não os degenerados, pois tudo o que penso da tapioca aplica-se-lhes (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/08/campanha-pela-restauracao-da-tapioca.html).
A única exceção que eu admito é uma invenção diabólica chamada brigadeiro de churros, que consegue perverter dois doces tradicionais de dois povos ao mesmo tempo, e à qual eu não consigo resistir.
Conta-se que o "doce do Brigadeiro" foi criado pelas eleitoras para divulgar a candidatura de Eduardo Gomes, que detinha essa patente, era bonito e solteiro (!?). O docinho era servido nas festas da campanha, mas não se sabe se foi criado para isso ou apenas popularizado nessa época, com ela se identificando. Cf (http://origemdascoisas.com/a-origem-do-brigadeiro/, http://mundoestranho.abril.com.br/alimentacao/por-que-o-doce-brigadeiro-tem-esse-nome/).
(Abrindo parênteses, esse requisito de beleza masculina também foi argumento na eleição presidencial de Collor, e de um governador aqui do meu Estado).
O fato é que Eduardo Gomes não ganhou a eleição mas brigadeiro foi eleito uma das preferências gastronômicas nacionais, e a maioria das pessoas o come sem lembrar do candidato. Mas outras, como eu, lembram dessa estória e passam adiante.
E por que lembrei disso hoje? Porque hoje vou comer muito doce de brigadeiro, daqueles tradicionais, não os degenerados, pois tudo o que penso da tapioca aplica-se-lhes (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/08/campanha-pela-restauracao-da-tapioca.html).
A única exceção que eu admito é uma invenção diabólica chamada brigadeiro de churros, que consegue perverter dois doces tradicionais de dois povos ao mesmo tempo, e à qual eu não consigo resistir.
Marcadores:
Direito à memória dos mortos
sexta-feira, 7 de abril de 2017
Apagar a lembrança
Li essa dramática notícia: http://www.efe.com/efe/brasil/sociedade/mulher-atira-corpo-de-filha-morta-por-anorexia-ao-mar-para-apagar-lembran-a/50000246-3231327
Evidentemente, jogar o corpo da filha falecida ao mar dentro de uma mala não é um meio efetivo para "apagar" a sua lembrança.
Pelo contrário, agora todos nós vamos lembrar da jovem Katerina, que faleceu após um prolongado sofrimento, e cujo corpo não foi destinado adequadamente. A mãe, além de perdê-la tragicamente, ainda vai responder a um processo por ocultação de cadáver.
O resultado foi o oposto: construir uma camada de memória mais dolorosa sobre o fato.
Evidentemente, jogar o corpo da filha falecida ao mar dentro de uma mala não é um meio efetivo para "apagar" a sua lembrança.
Pelo contrário, agora todos nós vamos lembrar da jovem Katerina, que faleceu após um prolongado sofrimento, e cujo corpo não foi destinado adequadamente. A mãe, além de perdê-la tragicamente, ainda vai responder a um processo por ocultação de cadáver.
O resultado foi o oposto: construir uma camada de memória mais dolorosa sobre o fato.
Marcadores:
Direito à memória dos mortos
quarta-feira, 5 de abril de 2017
Formas de lembrar (2): um sinal nos Céus
Bíblia, Gênesis, 9:16: "E estará o arco nas nuvens, e eu o verei, para me lembrar da aliança eterna entre Deus e toda a alma vivente de toda a carne, que está sobre a terra".
Arco-íris (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/03/arco-da-velha.html), um monumento efêmero e colorido, de tantas formas apropriado e com tantos significados.
Marcadores:
Direito à memória coletiva
terça-feira, 4 de abril de 2017
A voz da arte - divulgação
Olha que legal: https://www.youtube.com/watch?v=WLVi5ePu36E
A arte falando com os cidadãos? Incrível!
A arte falando com os cidadãos? Incrível!
segunda-feira, 3 de abril de 2017
La memoria de los huesos - documentário - estréia 6 de abril
Porque quem procura os ossos dos desaparecidos são seus entes queridos: http://www.roccomotion.com/la-memoria-de-los-huesos.html
domingo, 2 de abril de 2017
sábado, 1 de abril de 2017
Assinar:
Postagens (Atom)