O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









domingo, 26 de dezembro de 2021

Formas de lembrar (25): insetos e outros bichos nojentos

 A minha vovó Aline adorava pregar peças nas pessoas colocando insetos de plástico nojentos nas empadinhas da festa.

Nós, os pobres familiares, há anos já não caíamos na brincadeira, então ela resolveu colocar pimentas nos docinhos e empadinhas.  Quando havia visitas incautas, aí ela se divertia e colocava umas baratas e uns escorpiões de plástico só para ver a cara de susto e nojo das pessoas.

A memória da minha avó ficou tão ligada a esses bichinhos que o meu tio, para lembrar dela, colocou alguns dos exemplares  na parede de casa, e não uma fotografia, como era de se esperar:

Os insetos colocados nas empadinhas de vovó

Quando ele nos mostrou hoje nenhuma explicação foi necessária. Todos nós demos risadas lembrando de vovó Aline, das suas empadinhas surpreendentes e de como ela se divertia quando alguém encontrava um desses bichinhos de plástico.


sábado, 20 de novembro de 2021

Hoje

Hoje no meu lugar

 

sábado, 16 de outubro de 2021

Arqueologia de mim

Não posso evitar.  Olho em volta e fico imaginando o que os arqueólogos concluiriam com a análise dos meus artefatos.

Imagino um arqueólogo olhando tudo e concluindo que se tratava de um habitação padrão do ano 2020 (circa),no período pré-pandêmico, e que provavelmente era habitada por uma mulher em razão da grande quantidade de artefatos de uso feminino, conforme era usual naquela época.

Foram encontrados alguns anéis de ouro e muitos artefatos escritos, provavelmente livros, que indicam que essa pessoa provavelmente exercia uma função de sacerdotisa ou escriba.

(Interessante, os arqueólogos nunca acham professores).

Foram encontrados pequenos vestígios de tecidos, todos negros, que indicavam que provavelmente a habitante usava roupas dessa cor.

Não foram localizadas ferramentas tradicionais, o que pode indicar que a habitante não possuía habilidades manuais.

(pensando nisso, acho que tenho que fazer uns desenhos nas paredes mostrando que sou hábil em várias coisas, para dar uma imagem melhor para a posteridade).

É mesmo muito interessante tentar entender quem foi alguém pelos seus artefatos.  Mas o quadro será sempre incompleto e insuficiente pois artefatos são o que sobrou, apenas isso.

sábado, 9 de outubro de 2021

Memória da pandemia: registro na arte

O trauma causado pela pandemia será registrado de muitas formas na memória individual e coletiva.  Sem dúvida, uma das formas mais duradouras de registro é a criação de obras de arte com essa temática.

Os artistas, essas pessoas tão interessantes e cheias de habilidades, vêem o mundo de uma maneira especial e conseguem transmitir a sua mensagem e a sua emoção por meio de linguagens verbais e não-verbais.

Os poetas explicam temas impossíveis, os bailarinos conseguem expressar as mais profundas emoções nos seus gestos. A música fala direto com você e nem precisa de texto algum. A vida sem a arte seria menor, e para mim intolerável.

As artes são formas de expressão e, como tal, integram o patrimônio cultural de um povo. Como bens culturais, veiculam mensagens que passam a ser reproduzidas, e por vezes assumem significados diversos. 

Preste atenção, e verá que um artista consegue explicar para e por você aquilo que não se consegue expressar.  Quantas vezes eu concordei, entendi e balancei a cabeça, recebendo a lição que um poema, uma música, uma escultura ou uma dança me trouxe.

Isso acontece muito comigo quando leio Fernando Pessoa e Gregório de Matos, mas eu duvido de Leminski embora o ame profundamente (http://direitoamemoria.blogspot.com/2015/06/lembrar-paulo-leminski.html).

Essas pessoas, esses artistas, conseguem inscrever a sua visão de mundo nesse mosaico complexo que se chama Humanidade e, mesmo quando estamos separados pelo tempo e pela distância, os sentimentos, os problemas e as soluções estão ali para quem sabe entender.

Nesse post vou tentar trazer algumas obras que registram a pandemia, iniciando pela música que Criolo fez em memória de sua irmã Cleane, falecida em razão de covid-19: https://www.youtube.com/watch?v=SBRFdIc1o8E

sábado, 2 de outubro de 2021

Memória da pandemia: mudanças

A pandemia de coronavirus foi identificada como um ponto de virada da Humanidade, o processo que evidenciou o fim de uma era, ou de mundos. Talvez marque o início da Era de Aquarius, ou o fim da Kali Yuga, ou uma espécie de apocalipse por etapas.

Não sei nada disso.

Sei que certamente será um marco na memória coletiva e permitirá uma inédita comparação da eficácia de políticas públicas de enfrentamento, e em que medida os padrões culturais são fatores determinantes.

Do ponto de vista individual, sem dúvida trouxe mudanças.  Considero-me uma pessoa diferente, e melhor do que era antes.  Não considero que a pandemia tenha nenhum lado positivo e se trouxe ensinamentos é porque tragédias também ensinam.

O que eu aprendi que me faz melhor? 

Percebi que tenho maturidade para o isolamento social, e aprendi a ver a minha casa como um lar. Ficar sozinha não era um problema, e agora passou a ser uma solução.

Sempre me virei, mas quando a realidade é de não saber o que fazer, a gente busca soluções.  Não tem delivery de comida? Aprendo a cozinhar. Não sei fazer nada? Adotei uma dieta crudívora durante seis meses que eu acho que ajudou muito a minha saúde.

Estou tentando voltar aos primórdios da alimentação da pandemia e retomar práticas que eu aprendi.  Em determinados momentos a minha cozinha era tão viva, tinha tanta coisa acontecendo...Eu aprendi germinar alimentos para comer, e não precisar cozer, e chegava a ser bonito ver o meu almoço se desenvolvendo durante dias e dias.

Tenho orgulho de não ter ficado sedentária durante o isolamento. Incorporei uma rotina de exercícios que contribuíram para o meu corpo e a mente sã que habita nele.  A atividade física, mesmo em circunstâncias extremas, já foi uma solução testada e aprovada por Joseph Pilates.

Sempre valorizei as relações humanas, e o isolamento só reforçou a idéia de que afeto e atenção não decorrem necessariamente da presença física. Meu pai sempre trabalhou fazendo longas viagens mas sempre sentimos que estava presente para nós, mesmo à distância.

Procurei descobrir o que eu gosto de fazer, e acabei compreendendo que a felicidade é uma construção.  Voltei a estudar música, a praticar artes marciais e estou envolvida em projetos artísticos de diversas naturezas, simplesmente porque considero que a expressão ajuda a ampliar meus horizontes.

Agora, é registrar e transmitir a experiência às futuras gerações.

quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Duzentos mil

Em 09 de outubro de 2016 o blog comemorou cem mil visualizações (https://direitoamemoria.blogspot.com/2016/10/cem-mil.html).

Se qualquer cem mil coisas já é muito, duzentas mil então...

Nunca imaginei que esse instrumento de expressão pudesse ter esse alcance, e a minha única pretensão era  falar sobre memória, direito à memória e patrimônio cultural.  

Agradeço a todos os que visualizam as postagens e considero a atenção recebida como estímulo  para continuar refletindo aqui sobre temas tão fascinantes. Agradeço por lembrarem comigo.

Obrigada, em todas as línguas!

terça-feira, 28 de setembro de 2021

Lembrar Nijinski

Vaslav Nijinski nasceu em Kiev, em 12 de março de 1889, e dedicou a sua vida a assombrar a dança. Reconhecido como bailarino e coreógrafo, é considerado um gênio etéreo e pioneiro que mudou os rumos da sua arte.

Não sei nada sobre dança ou balé, mas entendi o conflito de tentar explicar sem palavras as mais profundas emoções humanas. O esforço de expressar-se em uma linguagem não-verbal tão complexa, que juntava o som, o gesto e a visão consumiu o artista e o levou à loucura.

Que vida tão humana teve o deus da dança. Quanto sofrimento, quanta angústia, quanto amor percorreram a sua biografia enquanto ele pairava sobre a sanidade como se fosse um palco dos seus balés.

Eu não sei nada de dança, mas entendi o que ele queria dizer. Era arte.


sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Computador quebrado

Hoje o meu computador quebrou e logo veio aquela dúvida que nos assombra em situações como essa: perdi todos os meus arquivos?

A memória de tudo quanto fiz foi preservada?

A resposta para isso é que preservo os meus arquivos no plano astral (que não é a nuvem), como fazem os aborígenes australianos no seu sonho, ou tempo dos sonhos.

Há um espaço em que toda a nossa memória habita, que alguns chamariam de memória do mundo, registro akhasico.  Essa idéia fascinante foi por mim materializada em um hd externo.

Preservo os registros periodicamente. Guardo em mídias diversas. Atualizo as mídias. E assim repasso os meus arquivos de computador em computador até o fim dos tempos.

O conteúdo de alguns arquivos fundamentais é impresso, catalogado e devidamente sistematizado na estante.

Cheguei à conclusão de que os mais importantes deveriam também ser escritos na parede, o que não se trata exatamente de uma idéia nova, que já provou ser funcional e eficaz em várias culturas e períodos históricos, mas não tenho habilidades para pinturas rupestres.

Ainda.



quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Fake News X Memória

 A Bíblia, nos dez mandamentos, alerta para que não se levantem falsos, ou não se dêem falsos testemunhos porque a mentira é inimiga de Deus.

Aliás, para os cristãos, a mentira é um indicativo do mal, ou de uma espécie de mal personificada em um personagem que essencialmente existe para enganar, desencaminhar com falsas promessas, e cujas ações são reconhecíveis exatamente por isso.

A defesa da verdade é um imperativo ético. Nesse nosso tempo em que a informação e a desinformação circulam com igual aparência e velocidade é preciso estar treinado para entender, reconhecer e combater uma mentira quando nos deparamos com ela, porque as que subsistem envenenam pessoas, relações e memórias.

A mentira distorce e deforma a memória porque há o registro de uma informação falsa que será transmitida às futuras gerações, e cujos efeitos são imprevisíveis.

Há mentiras inofensivas e inúteis, mas há outras que prejudicam, fazem sofrer e até matam. A memória não deve ser o veículo dessas mentiras, e isso também é um imperativo ético.

Embora a memória seja dinâmica e esteja em contínua ressignificação, as revisões e reinterpretações não podem criar o que não aconteceu ou negar o aconteceu.  Existe um limite ético que, quando transgredido, transforma a ressignificação em esquecimento, em violação da memória.


segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Andre Matos - Documentário "O Maestro do Rock"

14 de setembro  é o aniversário de Andre Matos, e em comemoração ao seu 50º aniversário foi lançado o documentário "O Maestro do Rock" (2021).

Enquanto aguardo para assisti-lo, estou ouvindo uma música dele por dia, durante 50 dias. 

Feliz aniversário, Andre.



terça-feira, 14 de setembro de 2021

Maus, de Art Spiegelman

Estou de férias em casa e esse livro era o primeiro da minha lista de leituras obrigatórias.

Na verdade já figura nessa lista há muito tempo, mas confesso que eu estava evitando ler e pensar sobre o tema tão doloroso, o Holocausto.

Como fato histórico e trauma coletivo é documentado e debatido há décadas. Mas vislumbrar a dimensão pessoal da tragédia dos pais do autor, e como esse trauma incomunicável e inexplicável se transmitiu e moldou as gerações futuras é uma experiência de leitura e reflexão profundamente dolorosa e necessária.

Esse livro é um clássico por muitos motivos.  Pela linguagem inesperada dos quadrinhos, pela impotência e transparência do autor ao tentar contar a história da sua família de uma maneira tão verdadeira. Por fazer tudo que uma obra de arte  faz, que é expandir a nossa compreensão.

Não há palavras para expressar o que essas pessoas sofreram. O que a gente faz quando perde tudo? Quando todos os afetos são assassinados, desaparecidos? Como continuar vivendo?

A memória dos sobreviventes é cheia de dor e culpa. E medo. São feridas que o tempo não consegue curar, e que são transmitidas às gerações futuras, criando uma solidariedade intergeracional no trauma.

O talento e os desenhos do autor contam a história como ela deve ser contada. Eu, que não sou rato, nem gato, nem porco ou cachorro me senti como um fantasma.  A vontade era avisar aos ratinhos desavisados o mal que estava por vir mas, como fantasma, não era possível ser ouvida.

A lição para a leitora é lembrar do que aconteceu e alertar os ratinhos, gatinhos, porcos e cachorrinhos do futuro porque a História não se repete, mas às vezes rima.




 

terça-feira, 7 de setembro de 2021

Todos os nomes da memória

Como será que as pessoas pelo mundo concebem e definem a memória?  Cada povo deve ter a sua própria perspectiva, e só conseguimos aprender e apreender quando entendemos contextualmente um conceito.

Então vamos começar pelo básico: qual é a palavra que designa a memória?

Amintire (romeno)

Memória, memoria, memory, mémoire, memoria: Espanhol, Português, Inglês , Francês, Italiano. Outras têm palavras que soam como memória, embora com a grafia diferente.

Erinnerung, ذاكرة (árabe), μνήμη (grego), Speicher, याद (hindi), זכּרון (íidiche), メモリー(japonês), mahara (maori), manatua (samoano), 記憶 (chinês).

Tantos idiomas! Eu gostaria de saber porque a memória recebeu esses nomes, qual a etimologia, o uso. Provavelmente escrevi errado alguns, mas até em outros alfabetos que eu desconheço a palavra é linda.

Vou colecionar os nomes da memória em outras línguas, juntamente com cornucópias, relógios de sol e xingamentos antigos.



quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Carestia

Nessa semana muito se discutiu sobre o preço dos alimentos, combustíveis, e dos serviços que todos hoje precisam para viver como fornecimento de luz elétrica, água, esgoto e telefone, e como houve um aumento generalizado do custo de vida durante a pandemia.

Então lembrei que quando eu era pequena a inflação era uma presença marcante nos lares brasileiros (http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/05/memoria-brasileira-inflacao.html), uma visita indesejada que deixava a todos inquietos e tinha o nome interessante de "Carestia".

"Carestia" é uma palavra engraçada porque parece nome de gente: é a tia de alguém; D. Carestia, a vizinha fofoqueira, ou aquela mulher que incomoda todo mundo.

Carestia e inflação em Português são palavras do gênero feminino, e eu me pergunto se aí não haveria um recorte indevido e uma vontade de colocar a culpa do estouro do orçamento doméstico no lado feminino da corda, justo onde ela sempre arrebenta.

Enfim, as mulheres levam a culpa do orçamento doméstico estourado porque em geral são elas que adquirem produtos para todos e para a manutenção da casa.  Os gastos atribuídos ao feminino na verdade são coletivos e para o bem comum.

Ninguém mais fala em carestia, embora ela continue existindo, e é por isso que eu voltei a usar essa palavra.

domingo, 22 de agosto de 2021

Memória da pandemia: construindo o passado

A pandemia está virando passado no Brasil, embora isso não corresponda totalmente à realidade da superação da doença. O advento da vacina e a redução diário do número de mortes criou uma expectativa de que tudo passou, diluindo o corpo da pandemia até quase a sua invisibilidade.

Enquanto a pandemia vai se tornando passado, é preciso selecionar o que será lembrado.  O que, no meio dessa situação tão dramática, se mostra digno de marcar a memória coletiva.

Na minha experiência, a sensação de perda é algo que vou lembrar enquanto viver. A sensação de ver um mundo, uma época morrendo é terrível.  

Quando a Universidade em que leciono fechou eu me despedi dos meus alunos, e alguns faleceram ou tiveram o curso das suas vidas mudados irreversivelmente pela pandemia.  Nada vai ser como antes.

Eu fiquei doente e ainda estou sofrendo os efeitos da COVID-19. Eu não estou como antes.

Essa foi uma experiência de sincronia da Humanidade, no nosso tempo.  Eu e os meus contemporâneos (vocês) vamos legar às futuras gerações informações que poderão ajudá-las em situações de grande necessidade.

O que nós vamos lembrar para os outros?




quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Quarentena?

Estou fazendo relato dos diversos períodos de quarentena em razão da pandemia de COVID-19 que nos atingiu desde 2020 ( https://direitoamemoria.blogspot.com/2021/04/dez-quarentenas-20042021.html ),  e esse último está um pouco diferente e confuso.  

A pandemia continua mas parece que aos poucos as pessoas estão esquecendo dela, e retornando à suposta "vida normal" de antes, sem que exista uma orientação específica e apesar de que diariamente ainda estão morrendo muitas pessoas e de que aqui circulam todas as variantes com letras gregas de que temos notícia.

O corpo da pandemia parece estar se diluindo na memória das pessoas.   Já há mais vacinados, e não se veiculam tantas notícias como antigamente nos meios de comunicação, mas na realidade limitada e próxima de cada um os relatos de tragédia continuam.

A pandemia é uma realidade que está se fragmentando, e parece que o meio de "terminá-la" vai ser naturalizar um patamar de mortes considerável como aceitável.

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Voz

Nessa semana fiquei triste e chocada com o assassinato de Christiane Louise de Paula da Silva, que fazia a dublagem de diversos personagens em filmes e programas de televisão.

Fiquei pensando como as vozes dos dubladores invadem a nossa memória individual ao ponto de, ao lembrar de determinados filmes, é o seu áudio que compõe as lembranças.  Não consigo lembrar de Harry Potter sem a voz do dublador Caio César, que era também policial e acabou morrendo em serviço.

Ou de Orlando Drummond, talvez um dos maiores artistas da dublagem do Brasil, que faleceu aos 101 anos de idade em 27/07/2021 após uma longa e prolífica carreira. A sua dublagem é incrível e os personagens aos quais ele deu voz não seriam os mesmos sem ela.

Lembro bastante da bela voz de Christiane Louise, e sinto tanto pelo que aconteceu com ela.  Agora, quando ouvi-la nos programas vou lembrar da tragédia que atingiu a dona daquela bela voz, mais uma vítima de homicídio no Brasil.



quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Parapsicologia

Essa palavra imediatamente me faz lembrar do Padre Quevedo, com o seu sotaque espanhol tão lindo dizendo coisas assustadoras em Português.

Mas esse post não é sobre ele, e sim sobre a primeira vez que eu ouvi falar em Parapsicologia.

No meu colégio tínhamos uma feira de ciências anual muito interessante, e uma ampla liberdade para falar sobre qualquer assunto.  As pessoas inscreviam o seu trabalho e durante uma semana todos podiam assistir a todos os trabalhos.

Havia o estímulo para que todos prestigiassem o trabalho dos pequeninos e era legal ver o diálogo entre as diversas faixas etárias. Por outro lado, os pequenininhos como eu podiam assistir a todos os trabalhos, e não havia censura e nem direcionamento para temas específicos.

Alguns trabalhos ficaram famosos e entraram para a memória coletiva do meu colégio, como o trabalho da minha irmã sobre doença de Chagas.  Ela levou um coração de verdade que mostrava os sintomas da patologia, e todos ficaram bastante impressionados.

Para mim, o trabalho que realmente marcou foi o da Parapsicologia. Era tão concorrido que tinha fila de espera para entrar na sala, e funcionou como sessão de cinema. As pessoas saíam assustadas e passavam suas impressões adiante.

Eu me inscrevi e consegui assistir à palestra com o renomado parapsicólogo.  Não fiquei assustada, mas muito interessada sobre aquelas informações tão diferentes do que eu estava acostumada.

Houve fotos, vídeos e relatos, todos acompanhados pelas caras e suspiros de surpresa da platéia.  Eu entendi o que estava sendo dito, mas fiquei interessada mesmo foi no efeito daquilo tudo nas pessoas.  Lembro que a impressão duradoura para mim foi de como as pessoas receberam e depois repassaram a informação.

Acho que ali eu já estava interessada na memória coletiva, só não sabia que o meu amor tinha um nome.




sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Panela de pressão

Eu uso como metáfora, já que não sei cozinhar o suficiente para usar o objeto.

A minha mãe não deixa.

Uma das minhas lembranças mais antigas é minha mãe mostrando um fogão e dizendo que eu não podia chegar perto dali.  Levei essa ordem a sério e só fui aprender a cozinhar em 2020, quando fui obrigada pela pandemia e após passar meses em dieta crudívora.

Estou evoluindo para usar panelas de pressão, e nas próximas semanas vou aprender a fazer comidas que a exigem, como feijoada e chambaril, sob supervisão rígida e atenta dos meus pais.

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Artigo sobre autenticidade - divulgação

Publicado por Albino M. Santos Dantas na Revista Herança: https://revistas.ponteditora.org/index.php/heranca/article/view/443/297

O título é "Autenticidade como valor - aspectos de uma concepção de autenticidade no patrimônio", pp. 39 a 53 da revista. 

sábado, 31 de julho de 2021

Incêndio na Cinemateca Brasileira

 A memória cinematográfica virando cinzas: https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2021/07/30/famosos-e-autoridades-lamentam-incendio-em-galpao-da-cinemateca-brasileira.ghtml

Irreversível, irreparável, incomensurável.  A perda de um acervo como esse é uma tragédia social que afetará as presentes e futuras gerações.

Preservar é garantir recursos, é disponibilizar informação que pode se transformar em conhecimento. Agora só temos escombros e informação sobre o que a falta de zelo pode causar à memória coletiva.

😢


sexta-feira, 30 de julho de 2021

Olimpíadas 2020 em Tokyo 2021

Eu adoro Olimpíadas apesar de discutir bastante a estratégia de religação das Olimpíadas modernas e os jogos antigos, como referido no post https://direitoamemoria.blogspot.com/2016/06/olimpiadas-modernas-no-brasil-2016.html.

Superando essa ressalva, adoro Olimpíadas pela diversidade e pela qualidade do esporte apresentado.  Essa edição, entretanto, será muito  marcante para a memória coletiva porque:

a)  Está sendo realizada em meio à pandemia de Coronavírus. As imagens, a falta de público, e o fato de que muitos atletas foram impossibilitados de competir por estarem doentes ou porque não conseguiram treinar adequadamente mostram que a régua da competição tem que mudar.

b) E essa régua definitivamente mudou após a desistência de Simone Biles por razões de saúde de mental.  Desde quando o esporte de alto nível colocou a saúde dos atletas à frente dos resultados? 

c) Por causa da pandemia os jogos foram adiados, mas o nome do evento continuou "Olimpíadas 2020".  Isso trouxe alguns questionamentos em relação à formação da memória, pois o correto seria a data de 2021.  Particularmente, quando fui questionada sobre o assunto, manifestei o entendimento de que manter a referência a 2020 não é uma violação à memória coletiva, pois na verdade trata-se de um evento que foi adiado, por razões conhecidas e divulgadas, e apenas deverá ser feita referência ao fato quando a história for contada. 

Também não vislumbrei uma tentativa de esquecer ou desconsiderar as vítimas da pandemia.  Se é adequado realizar um evento assim nessas circunstâncias é uma questão complexa que precisa ser pensada por diversos ângulos, e considerando a situação específica da saúde coletiva do Estado anfitrião e dos Estados participantes.

d) Eu adoro ver todas as modalidades e gostaria de treinar cada uma delas. As novas modalidades trouxeram medalhas para o Brasil: no skate prata para Rayssa Leal e Kelvin Hoefler;  e no surf masculino, ouro para Ítalo Ferreira.

As Olímpiadas ainda não terminaram, então esse post continua...


quarta-feira, 28 de julho de 2021

Borba Gato

Estátuas geralmente são formas de lembranças celebrativas, utilizadas para homenagear alguém.  E por que alguém deve ser homenageado e celebrado pela memória coletiva?

Por que aquela estátua está e por que permanece?  O significado dos personagens não é imóvel como uma estátua e é normal que a sua importância para a memória coletiva seja ressignificada.

Na semana passada uma estátua de Borba Gato foi danificada em um protesto (https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2021/07/26/prefeito-de-sp-lamenta-incendio-em-estatua-do-borba-gato-e-diz-que-empresario-ira-doar-valor-para-restaurar-monumento.ghtml), e à semelhança do que aconteceu em outros lugares motivou a discussão sobre o ato e também sobre o personagem.

Quem foi Borba Gato? Ele merece ser lembrado em via pública?  Como e por que ele é lembrado? E, finalmente, o que devemos fazer com a lembrança?

Não sou favorável à destruição mas obviamente a sociedade tem o direito de discutir os bens culturais que integram a sua memória. Borba Gato AINDA merece ser homenageado no nosso tempo?

Quem criou o monumento, por que criou, por que mantém, quem quer destruir e por qual motivo? O objeto, em si, tem valor artístico ou histórico? Essas são as questões que, respondidas, podem indicar o adequado destino do objeto.





sábado, 24 de julho de 2021

Acupuntura

Há alguns meses - 19 meses para ser precisa - venho enfrentando alguns problemas de saúde que ainda não têm um diagnóstico definitivo, além de sequelas decorrentes da Covid-19.  Não é apenas a Síndrome da boca ardente (https://direitoamemoria.blogspot.com/2020/07/sindrome-da-boca-ardente.html): os sintomas foram se diversificando e se tornando complexos (eu diria sistêmicos, mas sou advogada e não médica), e acabei tendo que ir aprendendo a conviver com eles.

A boa notícia é que depois de centenas de exames (e isso não é exagero) foram afastados os diagnósticos mais graves, degenerativos e incapacitantes. "Crônico" foi adjetivo utilizado, mas eu ainda não sei o que se tornou crônico.

Diante dessa situação resolvi procurar um famoso acupunturista da minha cidade e, após alguns segundos sentindo o meu pulso ele concluiu que o meu problema é excesso de Yang.  A solução é enfiar várias agulhas.

Como estudante do patrimônio cultural e da memória coletiva eu não poderia desperdiçar um conhecimento tão aperfeiçoado e uma arte tão antiga, e resolvi usar esse recurso cultural ao meu favor.  Estou fazendo sessões de acupuntura e aproveito para tirar todas as dúvidas, que são pacientemente respondidas pelo médico acupunturista.

Enquanto eu levo espetadas aproveito para fazer perguntas e prestar atenção ao meu corpo, que tem me mandado mensagens tão confusas como se nós falássemos línguas diferentes. Eu sou cronicamente curiosa e estou aprendendo coisas novas, o que certamente vai me ajudar a percorrer esse caminho de uma forma melhor e diferente.

quinta-feira, 22 de julho de 2021

#TBT 2

Saudades de dias assim

 

terça-feira, 20 de julho de 2021

Picasso destruído

 Um original de Picasso foi queimado porque alguém queria eternizar a obra mudando o suporte:  https://cultura.uol.com.br/noticias/31706_coletivo-queima-obra-de-picasso-para-leiloar-como-nft-vivera-para-sempre-no-blockchain.html


As obras de arte sobrevivem até que alguém tem uma idéia assim.  É isso.

terça-feira, 6 de julho de 2021

Memória e revitimização

Um trauma é um evento que marca profundamente a memória individual ou coletiva, e a sua memória consiste em um exercício constante de revivê-lo.

Sem dúvida, o processo de superação de traumas individuais e coletivos exige o esforço de memória, mas orientado para finalidades de cura e superação, e através de meios ou métodos que evitem que a vítima volte a experimentá-los.

A "revitimização" acontece quando alguém, que foi vítima de uma violência, é levada ou forçada a reviver o trauma de uma forma que lhe causa novos traumas.  Ou seja, às memórias do trauma original são agregadas experiências negativas que o aprofundam, vitimizando novamente sob o pretexto da necessidade de lembrar e expor.

Essa necessidade de lembrar e expor o trauma pode revestir de interesse público, especialmente quando se trata de processos judiciais e administrativos. A vítima, que busca a reparação, e o Estado que busca aplicar a lei na persecução de perpetradores elaboram um procedimento para canalizar essas memórias para os fins legais.

Entretanto a forma como essas memórias são obtidas podem gerar mais traumas, e são consideradas como uma forma de violência institucional pela Lei nº 13431/2017, observem:

Art. 4º Para os efeitos desta Lei, sem prejuízo da tipificação das condutas criminosas, são formas de violência:

(...)

IV - violência institucional, entendida como a praticada por instituição pública ou conveniada, inclusive quando gerar revitimização.

§ 1º Para os efeitos desta Lei, a criança e o adolescente serão ouvidos sobre a situação de violência por meio de escuta especializada e depoimento especial.

§ 2º Os órgãos de saúde, assistência social, educação, segurança pública e justiça adotarão os procedimentos necessários por ocasião da revelação espontânea da violência.

§ 3º Na hipótese de revelação espontânea da violência, a criança e o adolescente serão chamados a confirmar os fatos na forma especificada no § 1º deste artigo, salvo em caso de intervenções de saúde.

§ 4º O não cumprimento do disposto nesta Lei implicará a aplicação das sanções previstas na Lei 8069 de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente)

A vítima precisa de respeito e acolhimento, precisa sentir-se segura para lembrar fatos dolorosos, e esses relatos precisam ser obtidos, registrados, tratados e utilizados da maneira mais eficiente, eficaz e digna possível.


domingo, 4 de julho de 2021

4th of July

Povos e suas comemorações.  O 4 de julho de 1776 marca o nascimento dos Estados Unidos, data da sua independência.

Cada data tem um significado, e um significado para alguém.  Observe essa interpretação do discurso histórico de Frederik Douglass, nascido escravo e um reconhecido militante pela abolição da escravidão, na potente voz de James Earl Jones: 


Essa é a pergunta: o que a Independência significa? O que é ser independente de verdade?

Significados mudam com o tempo, evoluem, e para que uma comemoração sobreviva e cumpra o seu papel é preciso fazer com que esses significados sejam incorporados ao cotidiano das pessoas, porque se isso não acontecer será apenas mais uma festa.

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Cigarrinho de chocolate

Pode parecer estranho mas quando era criança eu adorava os cigarrinhos de chocolate, tão perfeitos que pareciam reais e deliciosos. Gostava de brincar fingindo que fumava e depois comia vários chocolates de uma vez.

Ainda não entendo como não virei fumante.

Mas o que eu lembro mesmo é do rosto sorridente de um menino na embalagem que, como eu, parecia adorar os cigarrinhos.

O menino e aquele sorriso tão lindo infelizmente faleceram: https://www.correiobraziliense.com.br/diversao-e-arte/2021/06/4934722-morre-paulo-pompeia-ator-que-estampou-marca-de-cigarros-de-chocolate.html



quarta-feira, 30 de junho de 2021

Vovô Albino

O meu avô Albino Ferreira Dantas faleceu cinco anos antes do meu nascimento, e infelizmente não tive a oportunidade de conviver e aprender com ele mas certamente aproveitei o seu legado de muitas formas: os princípios e a educação que recebemos, os seus livros preciosos que pude ler, as memórias que vêm sempre cobertas de açúcar porque todos lembram dele com amor e alegria.

Ele era um pai e marido amoroso e justo, um leitor voraz, militar e um advogado reconhecido.  E também era maestro, e por isso a nossa família do lado paterno tem a tradição de educar musicalmente as crianças porque isso é bom para a expressão, para a disciplina e para a falta de disciplina.

Era também um grande fã de Beatles, de rock (segundo dizem e eu acredito) e de música brasileira.

Recentemente descobrimos que uma de suas composições pode ser ouvida nesse sítio: https://discografiabrasileira.com.br/artista/92490/albino-ferreira-dantas.  

É o hino de um time de futebol, e eu imagino que ele também devia ser um torcedor apaixonado.

Não temos o registro da sua produção artística e eu cheguei a procurar suas partituras, mas não encontrei. Tudo o que eu tenho para lembrar são fotografias, uma ou outra peça musical, e a lembrança boa de quem conviveu com ele e o viu reger.

Para vovô Albino, in memoriam.

sábado, 26 de junho de 2021

Impressões da pandemia (vol 11): a chamada de aula

Eu sou professora e para mim a chamada é uma obrigação de verificar quantos e quais alunos estão comparecendo às aulas, com o objetivo de controlar as presenças e eventualmente reprovar por faltas, o que é uma forma de garantir o bom emprego de recursos públicos da Educação mas também uma forma de conhecer os meus alunos.

Por questões pessoais, e porque me dedico ao estudo da memória e sei da sua importância para a individualidade, eu sei o nome de todos os meus alunos e as características que deixam transparecer no pouco tempo que estamos juntos (cf. https://direitoamemoria.blogspot.com/2013/07/lembrar-simonides-de-ceos.html).  Ultimamente não tenho tido a oportunidade de agregar as fisionomias nas minhas lembranças em razão das aulas remotas.

Nesses tempos de pandemia o que para mim era um momento normal e administrativo das aulas tornou-se fonte de preocupação e tristeza.  Quando percebo que uma pessoa não está comparecendo, isso tem um significado completamente diferente: se antes ocorria por razões e escolhas pessoais, hoje temo que tenha a ver com com a Covid-19.

Alunos meus desapareceram porque faleceram, estão doentes ou estão enfrentando a perda de um ente querido.  Então quando eu percebo que alguém não está comparecendo imediatamente meu coração fica apertado e eu procuro saber o que está acontecendo.

Essa é uma sensação terrível que se renova a cada aula, e com certeza vai se enraizar em minha memória e no meu comportamento mesmo depois que a pandemia passar e for esquecida.  Eu sempre agradeço a presença de todos e, acreditem, realmente fico feliz quando vejo que as pessoas estão do outro lado.

A  presença e a chamada que a verifica têm agora um significado totalmente diferente para mim.


terça-feira, 22 de junho de 2021

Máscara


Eu em 2020/2021




Fabiana com máscara


sábado, 12 de junho de 2021

Tabela periódica

Eu passei por dois desafios à memória individual na idade escolar: o primeiro foi decorar a tabuada e o segundo, a tabela periódica. Embora existam outras formas de aprender a tabuada que não seja decorando, e a tabela periódica realmente não tenha uma presença no meu cotidiano de advogada, ainda assim estou melhor do que o meu pai que foi obrigado a aprender todos os afluentes do Rio Amazonas sob a ameaça de palmatória (http://direitoamemoria.blogspot.com/2013/05/palmatoria.html?m=0).

Para o meu pai aprender os afluentes do Rio Amazonas talvez até fizesse sentido, uma vez que nasceu no Estado do Amazonas e era comum andar de barco por lá.  Talvez a Geografia ajudasse a salvar a sua vida caso precisasse se localizar, e a palmatória parece ter sido uma motivação eficiente já que até hoje ele lembra de todos os afluentes da margem direita e esquerda, e em determinada ordem.

Bem, a tabuada de 1 a 10 incorporou-se na minha vida de tal forma que quando eu penso em multiplicação ela vem automaticamente à minha cabeça.  Já a tabela periódica não memorizei no coração (decorar) tão bem:  ela é um grande quadro borrado, com cores e informações incompreensíveis.

Na verdade, eu não tenho nenhuma afinidade com a maioria dos elementos que estão ali, não me identifico.  Gosto mesmo é do ouro (Au) porque acho que absolutamente tudo fica melhor dourado (o que talvez seja uma herança da minha suposta ascendência cigana); tolero a prata (Ag) embora reconheça o seu valor; acho o símbolo do cobre engraçado, porque é uma piada interna dos lusófonos; preciso muito de oxigênio, hidrogênio, potássio, magnésio, zinco e cálcio; e presto reverência ao carbono porque me faz lembrar os poemas de Augusto dos Anjos, que se dizia filho do carbono e do amoníaco.

Então hoje resolvi dar uma olhada na tabela periódica, já que é sábado e estou com preguiça de fazer faxina no momento, e fiquei chocada em perceber como ela mudou desde os meus tempos de escola. Existem muitos elementos incorporados nas últimas décadas, com nomes interessantes e enigmáticos, e processos de descoberta que parecem verdadeiras aventuras.

Alguns deles são homenagens a cientistas, como o rutherfórdio, o einstênio e o mendelévio, o que prova que os cientistas e as tabelas períódicas exercem a lembrança celebrativa nomeando em homenagem (http://direitoamemoria.blogspot.com/2017/04/formas-de-lembrar-5-nomear-em-homenagem.html).

Se eu fosse estudar a tabela periódica hoje certamente o faria de um jeito diferente, lúdico e cheio de história, mas hoje é sábado e agora eu tenho que fazer faxina.

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Dois anos

Em 08/06/2021 completou dois anos do falecimento de Andre Matos.
Foi um dia de lembrar e ouvir suas obras, especialmente a música  "Here I am", do Shaman, porque in memoriam ele está:

Called back in time by the ancient winds
Can't you recall all the memories?
Walking the lost way of those who lived in loneliness
Think of the joy and the endless days
One step aside and the skies were grey
why Is this a life or just a game to lose or win?
'Cause a day will turn into night
And the spirits will rise
There will come then a time to understand...
Deep inside
Blessed by the rain falling from above
Could you imagine where life would take you
Now that you're praying for everyone you hurt so bad?
Still, don't you go, got to make a choice
Crying in silence, crying with no voice
Dare you to stay now and keep your strength up till the end?...
'Cause a day will turn into night
And the spirits will rise
Hold your breath, keep your eyes wide open
Now you see: the night is so clear
And you feel: the spirits are here
Running free, running free without fear
You'll find a way to the brightest light...
And now
Here I am, open arms
Thought your life was over when
There you saw in the sky
A ray of light,
So here I am
Will the stars keep shining bright
Till one day they may ignite?
When you gaze at the sky above,
I'll ever come down
To ease your solitude...
And now
Here I am, open arms
Thought your life was over when
There you saw in the sky
A ray of light,
So here I am
There you saw in the sky
A ray of light
Always by your side
There will come a time to understand!

Para ver Andre Matos cantando essa música é só colocar no Youtube Shaman, Here I am, Ritualive.  Eu adoro a versão ao vivo dessa música, e o meu presente de aniversário foi o box comemorativo desse show.


quinta-feira, 3 de junho de 2021

Curriculum Vitae

O curriculum vitae é o documento que mostra o curso da vida de alguém, o caminho que ela percorreu em alguma área da vida e que mostra a sua experiência.

Como todo registro, um currículo é um ato de memória. Mas, que tipo de evocação essas informações trazem?

Eu já tive a oportunidade de analisar muitos currículos, especialmente em bancas de concurso para professor do Magistério Superior, e sempre me perguntei o que não estava ali.  Quais informações importantes sobre a pessoa eu não estava vendo?

Quando analisamos os currículos  procuramos a comprovação de determinadas capacidades e habilidades que estamos buscando. Mas currículos são recortes da experiência de alguém, e obviamente não nos permitem conhecer a pessoa além daquelas informações que ela mesma fornece e comprova, e para fins muito específicos.  Olha só o meu currículo Lattes, que é o padrão que nós usamos para finalidades acadêmicas no Brasil: http://lattes.cnpq.br/3533867850666381

Quem lê o meu currículo percebe o meu interesse investigativo em alguns temas óbvios: Direito, direito à memória, patrimônio cultural e políticas públicas de preservação.

Mas, o que você não consegue perceber quando lê o meu currículo?

a) Que eu não estudo apenas esses temas. Eu faço estudos em áreas diferentes, específicas, e também estudo temas que parecem ser absolutamente inúteis. 

Sou motivo de piada para os meus irmãos porque às vezes estou me aprofundando em algum assunto bizarro e seguindo os procedimentos de metodologia da pesquisa rigorosamente.  Eu faço fichamentos de documentos exóticos, discuto e problematizo temas que algumas pessoas poderiam considerar irrelevantes ou indignos de um segundo olhar, e isso tudo se intensificou na pandemia.

Essa é uma parte da minha vida que provavelmente nunca constará do meu currículo.

b) A paixão que eu tenho pelos temas que eu estudo.  Eu penso em memória, direito à memória e patrimônio cultural na maior parte dos meus dias, e até sonho com isso (http://direitoamemoria.blogspot.com/2013/06/salvem-o-torrone.html).  

c) Um curriculum vitae não é o que a pessoa fez, é a própria vida da pessoa.  Os finais de semana estudando e escrevendo livros e artigos; as vezes que deixamos de ficar com as pessoas amadas para trabalhar; noites insones; a aventura buscando os materiais de pesquisa e a frustração por aquele livro ou artigo que a gente não conseguiu encontrar, e a alegria de ver um trabalho aceito e publicado. Escrever com dor de cabeça, estudar com dor de barriga, estudar quando perdemos um ente querido,  escrever e estudar entre lágrimas.

Nenhum currículo deixa transparecer a humanidade do trajeto, nem o particular significado de cada um daqueles trabalhos que estão ali registrados.

d) Que eu pratico artes marciais desde pequena. Que eu danço. Que eu canto, muito mal, mas nem por isso deixo de fazê-lo.  Que eu tocava piano, mas agora evito. Que eu atento poemas.

Que eu sou extremamente curiosa, e por isso acho que tudo merece ser estudado, inclusive a vida alheia. Que às vezes basta ter a informação, e que nem tudo deve ser publicado.

e) Que o percurso não é individual.  O currículo de alguém é o que ela fez com a ajuda de muitas pessoas: professores, orientadores, colaboradores, críticos, autores consultados.











terça-feira, 1 de junho de 2021

Impressões da pandemia (volume 10): a vacina

 Meus pais foram vacinados. Conseguiram as duas doses recomendadas e a nossa sensação é de alívio.

E de expectativa, porque não há previsão de que todos consigam tomar também.

Essa espera pela vacina, a incerteza quanto à gravidade da doença em cada um, e as perspectivas assustadoras de novas cepas e novas ondas são a minha principal lembrança dessa segunda fase da pandemia.

A primeira fase - ano de 2020 - sem dúvida vai ser lembrado pela dor e o sofrimento das famílias que perderam seus entes queridos.  

A segunda fase - ano de 2021 - continuamos vendo um grande número de pessoas sendo afetadas, morrendo, mas parece que a mortandade diária já não impressiona.  

Eu fiquei doente em 2021 e muito preocupada pelos desdobramentos imprevisíveis da doença.  Tive sintomas que ninguém nunca falou ou explicou, e um cansaço que não passava com nada.

Consegui agendar a primeira dose da minha vacina para o dia 08/06/2021, em um momento em que falam sobre a terceira onda, mais grave e mais perigosa.

terça-feira, 25 de maio de 2021

Noite 2



Estrelas caídas

Essa noite estava uma lindeza.

domingo, 23 de maio de 2021

Gol

 O Brasil é o país do futebol, que entre nós assume a face de patrimônio imaterial (http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/07/memoria-brasileira-o-futebol-patrimonio.html), e disso ninguém duvida.

Quarta-feira e domingo são dias tradicionais de futebol. Os outros dias da semana são reservados para os amantes que praticam, jogam a sagrada pelada da sexta-feira, do sábado, até mesmo da segunda-feira, que estão suspensas em razão das medidas de enfrentamento contra o coronavirus.

Hoje, domingo no isolamento, não havia pessoas na rua.  Domingo é também tradicionalmente  um dia calmo, salvo durante o carnaval.  

E tudo parecia normal até que eu ouvi o grito GOOOOL!. Visceral, coletivo e desesperado.  

Sim, ainda há pessoas aqui e elas estão se divertindo, torcendo, sofrendo e comemorando.  Na final do campeonato estadual, dois dos times centenários da minha cidade se enfrentaram e as pessoas fizeram o que fazem há mais de cem anos: gritam gol e se desesperam positiva e negativamente.

Eu acordei assustada com a gritaria pois, como vocês sabem, estou com covid e passo o dia dormindo mesmo, até porque essa é uma forma de festejar o domingo no isolamento.

Foram muitos gols e muitos gritos.  As pessoas xingando os torcedores adversários pela janela, sendo conscientes com o isolamento social mas perdendo a educação, como deve ser.

Apesar de assustada, não pude deixar de sorrir.  O meu time igualmente centenário não estava nessa final, mas não importa pois haverá muitas no próximo século.



terça-feira, 18 de maio de 2021

Impressões da pandemia (vol. 9)

Esse é o post que eu não queria escrever.

Eu testei positivo para o coronavirus no dia 13/05/2021.  Fiz o teste porque estava sentindo os sintomas de uma gripe muito forte, e a recomendação é que nesses casos se faça o exame para reforçar as medidas de isolamento.

Segui a recomendação e desde então estou em isolamento total em casa.  As recomendações gerais são: ficar em casa, cuidar da alimentação e da hidratação e, havendo dificuldades respiratórias ir para o hospital. 

Comprei um oxímetro e um termômetro e estou monitorando.  A recomendação é que se houver uma saturação de oxigênio abaixo de 95 devemos ir ao hospital.

Aprendi algumas coisas desde então, e esse post é para compartilhar as minhas lições:

a) Não adianta ficar especulando onde você contraiu o coronavirus.  Eu fiz tudo o possível para evitar, passei um ano e dois meses no melhor isolamento possível, mas nos últimos dias precisei sair de casa e ir ao hospital visitar a minha mãe que está internada.

Acho que essas saídas mais frequentes e o fato de visitar o hospital contribuíram para que eu contraísse, mas não adianta ficar pensando nisso.

b) Adianta, sim, avisar às pessoas com as quais eu tive contato. Como realmente eu me desloquei pouco e tive contato com poucas pessoas, consegui avisar a todas. Até o momento nenhuma delas apresentou sintomas.

c) Desde o momento em que apresentei os sintomas até a confirmação pelo teste, muita coisa passou pela minha cabeça.  O mais preocupante é pensar que talvez eu fosse uma das pessoas que desenvolve aquelas complicações mais graves.

A sensação de incerteza e medo, somada à debilitação física e o fato de precisar ficar sozinha tem efeitos devastadores.

d) Eu fiz planos depois de entrar para a estatística. Tudo isso tem que passar. 

Hoje não tive febre, e no geral estou me sentindo melhor.  A sensação é de um grande cansaço, muita dor de cabeça, e medo.

Escrevi esse post para lembrar de quando adoeci durante a pandemia, e daquelas pessoas que estão sofrendo no momento.


segunda-feira, 3 de maio de 2021

domingo, 25 de abril de 2021

Patrimônio cultural familiar (6): doenças e soluções

Famílias não são apenas afetos e desafetos entre pessoas.  São estruturas que permitem a criação, manutenção e transmissão de modos de viver, fazeres e saberes.

As famílias, como qualquer outro grupo, também têm a sua identidade e o seu patrimônio cultural.  A herança de uma família vai além dos meros bens econômicos: há todo um acervo de valores imateriais e culturais transmitidos através das gerações.  Refletimos sobre aspectos desse importante acervo nos posts http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2015/08/patrimonio-cultural-familiar.htmlhttp://direitoamemoria.blogspot.com.br/2017/04/patrimonio-cultural-familiar-2-arte-de.html e https://direitoamemoria.blogspot.com.br/2017/05/patrimonio-cultural-familiar-3.html?m=0http://direitoamemoria.blogspot.com/2017/12/patrimonio-cultural-familiar-4-os-fatos.htmlhttps://direitoamemoria.blogspot.com/2019/08/patrimonio-cultural-familiar-5-as.html.

Essa herança, que vai além dos meros bens econômicos, confere identidade e sensação de pertencimento. Os conhecimentos e valores (culturais e morais) são o quadro no âmbito do qual desenvolvemos a nossa personalidade, e sentimos a sua continuidade através da estreita relação com a memória dos antepassados e a convivência com os contemporâneos.

A memória familiar é um registro muito importante da biografia dos seus membros, e especialmente no que se refere às doenças que os afetaram, e que podem ser vistas como regularidades, das soluções e adaptações que foram encontradas para conviver com elas.  Antes mesmo da construção do campo de conhecimento chamado "Genética", as famílias sabiam o que afetava os seus membros e quais as soluções que passaram no teste do tempo.

Hoje quando alguém vai fazer uma consulta médica, sempre é feita a anamnese, para trazer à lembrança as informações sobre a saúde da pessoa e das doenças em que a genética é um fator importante. Informações precisas sobre hipertensão, diabetes, problemas cardíacos e vasculares  e outras doenças ajudam os médicos a contextualizar você.

Eu, por questões pessoais e acadêmicas, sou uma paciente que consegue dar muitas informações importantes e (incrivelmente) precisas sobre as doenças que os membros da minha família enfrentam e enfrentaram.  E nós, na minha família, aperfeiçoamos procedimentos e soluções ao longo das gerações.

Nesse caso lembrar é uma questão de sobrevivência e de qualidade de vida das pessoas, e uma chance para se preparar que dá uma grande vantagem no enfrentamento dos problemas.


terça-feira, 20 de abril de 2021

Dez quarentenas 20/04/2021

400 dias.

400 dias de medidas de distanciamento/isolamento social à brasileira.

Quando a pandemia começou achei que seria impossível ficar 40 dias em casa.  Achei impossível que nós, brasileiros, entendêssemos o que significa o isolamento.

E, realmente, as desigualdades de condições e mentalidades afloraram em relação ao que seria ou não adequado no enfrentamento da pandemia.

400 dias de desinformação, tentativa, erro, acerto, convencimento para que as pessoas façam o mínimo, façam o melhor para si e para os outros.

400 dias para aprender o que é o bem comum, a diferença entre o coletivo e individual, o público e o privado, e é pouco tempo. 


domingo, 11 de abril de 2021

Boas lembranças... Bogotá

Para mim, a lembrança de Bogotá vem na forma de um cheiro específico.

Um cheiro frio de noite, da hora que nós voltávamos do colégio para casa.

Um cheiro que misturava uma luz desmaiando, comidas de rua, as risadas com meus irmãos e amigos, e um abraço frio daquele vento que vinha dos Andes quando, para citar Leminski, a tarde me anoitecia.

Em dias muitos especiais quando a luz certa, a temperatura certa e o momento certo convergem, esse cheiro me leva de volta à cidade da minha infância.

Anteontem  (09/04/2021) revivi a minha bela Bogotá.


sexta-feira, 9 de abril de 2021

Genuflexório

Item de mobiliário desenhado para permitir que a pessoa faça as suas orações ajoelhada com conforto, enquanto pode apoiar os braços em um tipo de base alta horizontal, onde também pode ser apoiado o livro de orações.

Acho fascinante como essa palavra é descritiva, e é uma de minhas favoritas.

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Pequena atualização

Quando a pandemia se tornou uma realidade para mim em 16/03/2020, a minha situação era de não saber o que fazer e, principalmente, de não saber cozinhar absolutamente nada.

A recomendação era de não solicitar entrega de alimentos, então fui obrigada a criar estratégias para organizar as minhas refeições, o que significou me tornar vegetariana crudívora por alguns meses até conseguir aprender a cozinhar alguma coisa.

Essa seria a oportunidade perfeita para fazer minhas lamentações e falar do meu arrependimento de não ter aprendido a cozinhar com os meus pais e irmãos, e tios, e avós, porque a gastronomia é um patrimônio imaterial da minha família negligenciado pela minha preguiça de aprender, mas esse post não é para isso.

A idéia é trazer a minha história de superação. Eu aprendi a cozinhar.

Comecei com pequenas aventuras culinárias até conseguir fazer  incríveis  rabanadas (cf.http://direitoamemoria.blogspot.com/2020/12/rabanadas.html ). Passei algumas semanas comendo rabanadas e não enjoei, mas entendi que precisava seguir em frente.

Aprendi a cozinhar outras coisas até que, nesta semana, resolvi fazer um bolo de iogurte, uma comida russa e uma bebida mexicana de abacaxi fermentado.

Não faz sentido, e provavelmente eu estou ofendendo o patrimônio imaterial de vários povos, mas o fato é que eu consigo cozinhar a partir de receitas desconhecidas e até enfeito os pratos na hora de servir.

Quem diria, agora Fabiana cozinha muito.

segunda-feira, 5 de abril de 2021

Cortejo Real das múmias egípcias -2021

O Egito transferindo as múmias de reis e rainhas do Museu do Cairo para um novo local em um cortejo espetacular:



Em síntese, os egípcios construíram um edifício para abrigar e preservar as múmias da realeza, juntamente com os seus artefatos, e realizaram um ritual espetacular para o traslado, demonstrando de forma inequívoca a sua importância histórica.

Como sempre.



sábado, 3 de abril de 2021

Televisão de cachorro

Algumas padarias colocam uma aparelho que assa frangos, girando incessamente.  Por razões óbvias, vez por outra observamos cachorrinhos assistindo ao espetáculo, o que fez com que esse aparelho fosse carinhosamente chamado de "televisão de cachorro".

Eu me sinto exatamente assim quando assisto aos vídeos no Youtube onde as pessoas fazem aquelas sobremesas absurdas, contra as quais deveria haver leis rígidas.

Alguém tem que tomar uma providência. Há um abuso de chocolate e leite condensado, e eu assisto a esses vídeos só para ficar reclamando.

São sobremesas que eu nunca vou fazer nem comer por questão de princípios, então só me resta falar mal, e apontar o dedo acusatório, bradando contra essa imoralidade.

É isso.

Hora de ver como se faz um bolo vulcão de chocolate.



Impressões da pandemia: volume (7)

A gestão da pandemia no Brasil apresentou desafios específicos, que serão estudados ao longo dos anos.

Percebi que se implementou uma espécie de federalismo por regiões, de maneira informal ou formal mesmo, pela criação de consórcio de Estados-membros.

O Federalismo por regiões era defendido por Paulo Bonavides, um eminente constitucionalista brasileiro, que com razão via que as características geográficas, históricas e sócio-culturais eram determinantes para gestão territorial.

Também chamou a minha atenção como os serviços públicos para atendimento aos casos de COVID foram organizados, especialmente a classificação por cores. Inicialmente foram adotados o amarelo, laranja e vermelho para indicar os níveis de gravidade da pandemia, como sinalização para a adoção de medidas de enfrentamento gradual.

Agora temos a fase roxa em alguns lugares, que foi a pior classificação até o momento.

A fase roxa significa o colapso do sistema de saúde, falta de oxigênio, de leitos hospitalares para qualquer doença, falta de locais adequados para destinar os cadáveres.

Eu estou escrevendo essas impressões da pandemia para lembrar do que aconteceu nesse período e poder contar a experiência às futuras gerações, embora ache que esse registro não era necessário porque não vou poder esquecer dessa tragédia toda.

quarta-feira, 31 de março de 2021

Chantilly

Eu sei. 

O chantilly não resolve todos os problemas, mas é sempre bom ter um pouco em casa para emergências.

Esse post é a constatação de que o chantilly não é a solução para tudo.

quinta-feira, 25 de março de 2021

Impressões da pandemia: volume 8

Em momentos de grande dificuldade surgem pensamentos e sentimentos profundos. Surgem, como disse Vinicius de Moraes, como a fé nos desesperados.

Esses pensamentos, sentimentos, essa fé às vezes nos faz mudar, nos torna melhores.  Eu estou peregrinando no caminho dessa pandemia tentando ser o mais consciente e atenta possível e posso dizer que aprendi lições valiosas.

Eu percebo que sou feliz porque tenho os meus amores bem identificados, e estou sempre perto deles.  Amo a vida, amo a minha família e os meus amigos.

Amo estudar e viver o patrimônio cultural e o direito à memória. Amo estudar Direito.

E ouvir música.

E tomar água e vinho verde.

E amo que as coisas simples me fazem feliz, muito mais do que antes.

Quando isto tudo passar, vou amar a vida ainda mais, e agradecer por tudo de bom que ela traz, porque há pessoas, famílias e amigos que não podem mais fazê-lo.

Ontem o Brasil atingiu a trágica marca de 300 mil mortos pela COVID-19, e no mundo já são quase três milhões.  O nosso sistema de saúde entrou em colapso, faltou oxigênio e os profissionais de saúde estão esgotados e desesperados.

Esse post foi uma lembrança de um dia muito triste.


terça-feira, 23 de março de 2021

Citações sobre a memória - François Ost

 (...) "uma coletividade só é construída com base numa memória compartilhada, e é ao Direito que cabe instituí-la”.  

(...) “Sobre o fundo desse caos originário – estado de natureza sempre ameaçador – cabe ao Direito ditar o limite: dizer quem é quem, quem fez o que, quem é responsável.  Estabelecer os fatos, certificar os atos, colocar as responsabilidades. Lembrar a ordem genealógica, distribuir os papéis, separar os querelantes. Narrar o enredo fundador, reavivar os valores coletivos, fortalecer a consistência da linguagem comum, “a instituição das instituições” – a linguagem das promessas que o corpo social se fez para si próprio, a linguagem das leis, graças à qual dispomos de ‘palavras para dizê-la’, para dizer o que nos religa e nos diferencia, para dizer onde passa o limite do aceitável e do inaceitável”.


Referência

OST, François.  O tempo do Direito.  Bauru, SP: Edusc, 2005, p. 47.


domingo, 21 de março de 2021

Lusofonia

Não é o vinho falando. Estou sendo absolutamente consciente e verdadeira quando digo que amo a minha Língua Portuguesa.

As minhas memórias são nesse Português brasileiro, capaz de expressões tão lindas.  As canções, os poemas, a forma como nos expressamos pode ser tão profunda, tão visceral, tão completa por causa dela.

Alguém já disse que só se pode filosofar em alemão, e que todas as palavras de amor soam francesas, mas quem gosta, estuda e vive a Língua Portuguesa adentra um universo cheio de sons, palavras e formas encantadoras e complexas.

Uma língua aventureira que navegou pelo mundo, e saiu se enriquecendo com outras palavras e outras visões até chegar para me dar um abraço.

Somos poucos no mundo, apenas uns 220 milhões de falantes, que compartilhamos dessa lindeza da lusofonia, nosso patrimônio imaterial, nosso lar, nossa forma especial de comunicação.



terça-feira, 16 de março de 2021

Um ano (16/03/2021)

Faz um ano que a pandemia se tornou uma realidade para mim.

Em 16/03/2021 faz um ano que estou em isolamento parcial, em trabalho remoto, adotando medidas excepcionais de higiene que viraram o novo normal.

Um ano em que a vida mudou para sempre.  Um ano em que tantas pessoas se foram.

E, ainda assim, um ano para agradecer pela vida.

Que ano, meu Deus.

sábado, 13 de março de 2021

Morar sozinho

Morar sozinha foi uma experiência e tanto para mim.  Dessas que marcam a memória profundamente, pois foi um dos meus grandes atos de coragem para a vida.

Era jovem e decidi sair do conforto da casa dos meus pais (e contra a sua expressa vontade). Na verdade, aluguei um lugar e acampei nele durante um ano porque só tinha um colchão, um ventilador e uma caixa térmica (cooler), onde guardava água.

Demorou para conseguir mobiliar o meu muquifo, que é o nome carinhoso que se dá a esses refúgios bagunçados da nossa vida.  Consegui comprar uma geladeira depois de alguns meses, depois um fogão. Um ano depois consegui comprar uma televisão e finalmente uma máquina de lavar, porque ninguém merece lavar toalhas e lençóis à mão.

Foi um período de bastante aprendizado e amadurecimento.  Confesso que me diverti muito, muito mesmo. Viver sem a supervisão materna pode ser uma experiência muito eufórica durante algum tempo, mas depois que a gente cansa de tanta farra fica querendo voltar a conforto do lar.

Bem essa não era uma opção para mim pois, como citei acima, fui morar sozinha contra a expressa vontade dos meus pais.  Aqui no Brasil o costume e a economia estabelecem que os filhos permaneçam bastante tempo com os seus pais, e às vezes até mesmo casados continuam a morar com eles.

Eu quis morar sozinha para ser mais independente e acho que foi uma boa decisão, embora nem tudo fossem flores e alegrias.  Demorei um pouco para aprender a tomar conta de mim mesma e a saber que certas atividades domésticas precisam ser realizadas, as contas devem ser pagas, o que me lembrou um vídeo muito engraçado do Porta dos Fundos: https://www.youtube.com/watch?v=71nbCHS1B8Q

Muito engraçado mesmo. Tirando o exagero, comigo foi quase assim. Hoje eu posso olhar para trás e ver como eu era despreparada, mas corajosa.

Depois de alguns anos morando de aluguel, decidi que era hora de ter a minha casa. Comecei a planejar e adquirir objetos para a futura casa própria, e a minha primeira  aquisição foi um conjunto de imãs de geladeira: quatro lindas bonequinhas japonesas com mensagens de encorajamento e votos para uma nova vida feliz.

Eu teria feito muitas coisas diferentes se eu pudesse me dar conselhos retroativos, mas a gente só aprende com o caminho depois de percorrê-lo.


sexta-feira, 12 de março de 2021

Lembrar Astor Piazzolla

Astor Piazzolla é um grande compositor e instrumentista argentino, nascido em 11 de março de 1921, cujo centenário é comemorado neste ano da graça de 2021.

Esse grande músico tem uma dupla importância para mim, pessoalmente, e esse post é um agradecimento e uma celebração da sua memória.

Quando eu tinha uns onze anos de idade fui visitar a casa de um amiguinho de infância e da vida, Horácio.  Nós estudávamos juntos no colégio e no conservatório e ele seguiu seus estudos de piano,  tornando-se um pianista e professor de música.

Na casa dele pela primeira vez vi um disco de Piazzolla e o ouvi tocar.  O disco era Lumiere e eu fiquei intrigada pelo som daquele instrumento que parecia uma sanfona, mas não era.  E tão lindamente tocado.

A lembrança dessa tarde com o meu amigo, conversando, rindo e ouvindo Piazzolla ao fundo sempre me traz alegria.

A segunda coisa que me faz celebrar Piazzolla é que ele compôs a trilha sonora da minha vida.  "A" obra que me faz transcender e emocionar, a incrível Adiós Nonino, era a música que eu gostaria de haver composto mas não preciso porque ela já existe e foi executada por Astor Piazzolla. Não fica melhor que isso.

A minha música já existe, ela fala de saudade e lembrança, é triste, é profunda, é um tango.

Controvérsias à parte, se Piazzolla "degenerou" ou renovou o tango (e há quem assim considere), não dá para ouvir sem se emocionar.  Escute e sonhe: https://www.youtube.com/watch?v=IjwIOImWK14.

Aqui algumas imagens do maestro em comemoração ao centenário: https://www.youtube.com/watch?v=62-j30K3Uq0.




quinta-feira, 11 de março de 2021

Nove quarentenas (11/03/2021)

Hoje faz 360 dias de distanciamento social, nove quarentenas.

Quase um ano onde o impensável aconteceu.  Um ano para entender o que é a globalização na prática.

Um ano de mortes diárias.  Um ano de medidas de isolamento e autorrestrição.

Sem natal, sem carnaval, sem praia, focando na vida e na segurança.

A vacina vem chegando aos poucos, mas a normalidade - outra normalidade - vai demorar a se instalar.


terça-feira, 9 de março de 2021

Produtos centenários (9)

  Nossa preferência de sempre, como destacamos nos posts:

https://direitoamemoria.blogspot.com/2013/11/produtos-centenarios.html

A preferência por produtos e empresas centenárias é uma peculiaridade minha, e um dos critérios inafastáveis nas jornadas ao mercado.

Agora, mais produtos de empresas centenárias em uso:


Leite moça antiga

Finalmente entrou na lista, delícia.


Manteiga desde 1917

Geralmente eu gosto da centenária manteiga Aviação, mas a manteiga Itacolomy também já provou o seu valor.

sábado, 6 de março de 2021

Gata Maga

Hoje, 06 de março,  é o feriado que marca a Data Magna do Estado de Pernambuco, que se tornou independente de Portugal através de uma Revolução em 1817.

Por gloriosos 70 dias essa interessante parte do território que viria a ser Brasil foi uma República independente, cercada da monarquia portuguesa por todos os lados.

O Brasil só se tornaria um Estado independente de Portugal em 1822, e uma República em 1889.

O feriado pretende instituir uma Data Magna, mas não funcionou do jeito esperado.

A população apropriou-se da data e passou a chamá-la de "Gata Maga", e consequentemente o símbolo é uma gatinha bem magricela.

Na nossa memória coletiva, esse é o dia da Gata.

 

sexta-feira, 5 de março de 2021

Impressões da pandemia: volume 6

Em fevereiro de 2021 vivemos o recrudescimento da pandemia no Brasil.  As previsões para as próximas duas semanas (01/03 a 15/03) são apocalípticas e desesperadoras até mesmo para nós, tão acostumados ao caos estrutural.

Nas últimas semanas vivemos o trauma de ver pessoas morrendo por falta de oxigênio, o que sem dúvida marcará profundamente a memória coletiva, ou pelo menos a memória das famílias despedaçadas e a memória deste blog.

Embora nesta fase - denominada de segunda onda - estejamos em um momento diferente, com a perspectiva de uma vacina, o medo e a tristeza são iguais ou maiores quando comparados ao início.  Depois de 250 mil mortos, notícias de variantes e cepas que reduzem a eficácia da vacina, temos a sensação de que a situação ainda vai nos fazer sofrer por bastante tempo.

Neste momento, diversos locais tem um fechamento parcial mas caminhando para um novo lockdown porque as vagas em UTIs estão próximas do zero.  Há uma perspectiva de iminente colapso do sistema de saúde, e a partir de agora cada dia conta.



quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Produtos centenários (8)

 Nossa preferência de sempre, como destacamos nos posts:



Manteiga centenária preferida



Uso curativos do Laboratório Mercurochrome porque é uma empresa fundada em 1917 e também porque me lembra a minha vovó Aline (http://direitoamemoria.blogspot.com/2018/04/retrato-de-vovo-aline-quando-jovem.html).

Toda vez que eu me machucava, vovó corria no armário para pegar o mercúrio cromo, que além de antisséptico também devia ser uma espécie de panacéia.  Essa substância acabou por ser proibida e não é mais comercializada no Brasil.

Para  a minha vovó "mercúrio cromo" é um gênero de antisséptico, e por isso ela chamava outros remédios por esse nome, quando na verdade ela usava "elixir sanativo", um produto tradicional da minha região e mais que centenário, com a grande diferença de que era muito, mas muito mais ardido.

Em se tratando de machucados da infância, nós usávamos raramente a novidade merthiolate (de 1951), e mais frequentemente o mercúrio cromo e o elixir sanativo (de 1888), tradição essa repassada às novas gerações.


domingo, 21 de fevereiro de 2021

Memória poética de carnaval - Cidade Elétrica

 "Cidade elétrica" (Manno Goés)

Em nossa cidade tem mais poetas e artistas
Que pedras portuguesas
Pra cada dia um santo, um manto
Para cada esquina, um canto
Milhões de ampéres movidos a carvão e paixão
Minha cidade é maravilhosa
Minha cidade é elétrica
Fibra lúdica
Energia solar
Festa histórica
Ótica da crença
Tudo aqui tá ligado
Aqui tudo é dança
Fevereiro apaixonado
Tudo aqui balança
Chuveiro de água benta pra lavagem de escada
Alma lavada de fé
Um choque de alegria
Na força da fantasia
Axé, axé, axé
Cidade elétrica
Cidade elétrica
Nova, antiga, ginga, toca, liga, liga, liga
Cidade elétrica, cidade elétrica
Usina de emoção
Plug, poesia e canção
Na estética
Na prática
Na mágica
Na corrente do coração

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Quando o carnaval está chegando a gente consegue sentir a energia sobre a qual essa música fala.  Fica todo mundo meio elétrico e com vontade de pular. Tudo aqui balança.

Infelizmente, 2021 não nos permitiu essa alegria em fevereiro.