Estrelas caídas |
Essa noite estava uma lindeza.
O Brasil é o país do futebol, que entre nós assume a face de patrimônio imaterial (http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/07/memoria-brasileira-o-futebol-patrimonio.html), e disso ninguém duvida.
Quarta-feira e domingo são dias tradicionais de futebol. Os outros dias da semana são reservados para os amantes que praticam, jogam a sagrada pelada da sexta-feira, do sábado, até mesmo da segunda-feira, que estão suspensas em razão das medidas de enfrentamento contra o coronavirus.
Hoje, domingo no isolamento, não havia pessoas na rua. Domingo é também tradicionalmente um dia calmo, salvo durante o carnaval.
E tudo parecia normal até que eu ouvi o grito GOOOOL!. Visceral, coletivo e desesperado.
Sim, ainda há pessoas aqui e elas estão se divertindo, torcendo, sofrendo e comemorando. Na final do campeonato estadual, dois dos times centenários da minha cidade se enfrentaram e as pessoas fizeram o que fazem há mais de cem anos: gritam gol e se desesperam positiva e negativamente.
Eu acordei assustada com a gritaria pois, como vocês sabem, estou com covid e passo o dia dormindo mesmo, até porque essa é uma forma de festejar o domingo no isolamento.
Foram muitos gols e muitos gritos. As pessoas xingando os torcedores adversários pela janela, sendo conscientes com o isolamento social mas perdendo a educação, como deve ser.
Apesar de assustada, não pude deixar de sorrir. O meu time igualmente centenário não estava nessa final, mas não importa pois haverá muitas no próximo século.
Esse é o post que eu não queria escrever.
Eu testei positivo para o coronavirus no dia 13/05/2021. Fiz o teste porque estava sentindo os sintomas de uma gripe muito forte, e a recomendação é que nesses casos se faça o exame para reforçar as medidas de isolamento.
Segui a recomendação e desde então estou em isolamento total em casa. As recomendações gerais são: ficar em casa, cuidar da alimentação e da hidratação e, havendo dificuldades respiratórias ir para o hospital.
Comprei um oxímetro e um termômetro e estou monitorando. A recomendação é que se houver uma saturação de oxigênio abaixo de 95 devemos ir ao hospital.
Aprendi algumas coisas desde então, e esse post é para compartilhar as minhas lições:
a) Não adianta ficar especulando onde você contraiu o coronavirus. Eu fiz tudo o possível para evitar, passei um ano e dois meses no melhor isolamento possível, mas nos últimos dias precisei sair de casa e ir ao hospital visitar a minha mãe que está internada.
Acho que essas saídas mais frequentes e o fato de visitar o hospital contribuíram para que eu contraísse, mas não adianta ficar pensando nisso.
b) Adianta, sim, avisar às pessoas com as quais eu tive contato. Como realmente eu me desloquei pouco e tive contato com poucas pessoas, consegui avisar a todas. Até o momento nenhuma delas apresentou sintomas.
c) Desde o momento em que apresentei os sintomas até a confirmação pelo teste, muita coisa passou pela minha cabeça. O mais preocupante é pensar que talvez eu fosse uma das pessoas que desenvolve aquelas complicações mais graves.
A sensação de incerteza e medo, somada à debilitação física e o fato de precisar ficar sozinha tem efeitos devastadores.
d) Eu fiz planos depois de entrar para a estatística. Tudo isso tem que passar.
Hoje não tive febre, e no geral estou me sentindo melhor. A sensação é de um grande cansaço, muita dor de cabeça, e medo.
Escrevi esse post para lembrar de quando adoeci durante a pandemia, e daquelas pessoas que estão sofrendo no momento.